FAMÍLIA FURTADO
Esta é a família do Furtado, uma tradicional família de pequenos produtores de Timburi. Eles são a 4ª geração de agricultores que administram suas terras, produzem café cultivado à sombra e trabalham como artesãos. Eles processam seus grãos de café no local, gerando um café moído de alta qualidade como produto final. Os Furtados já possuem um pequeno pedaço de sua propriedade dedicado à prática da agrofloresta, onde introduziram uma grande variedade de espécies de frutas e outras plantas, trazendo biodiversidade para sua paisagem.
Além disso, praticam aqüicultura e convidam outras pessoas a visitar sua propriedade para pescar. No final do dia, as pessoas pagam pela quantidade de peixes que pescam, gerando renda adicional para a família. Os Furtados têm uma bela relação com sua terra e seu sustento é exclusivamente baseado nela. Agora, o Sr. Furtado está disposto a fazer a transição de uma parte considerável de sua plantação de café para sistemas agroflorestais, transformando suas terras em um ecossistema rico e diversificado.
IVO DE OLIVEIRA
Ivo é dono da sua propriedade há cerca de trinta anos e só consegue viver com o que lá colhe, literalmente “vivendo da terra”, indo ao Mercado da cidade apenas para comprar sal de vez em quando. Frutas, verduras, feijão, grãos e carne (frango, porcos e vacas), literalmente tudo o que garante sua sobrevivência, vem do seu sítio e foi plantado, cultivado e colhido por ele mesmo em seu sistema agroflorestal. Quando Ivo chegou pela primeira vez a esta terra, ela estava totalmente degradada. Ivo plantou cada centímetro de sua terra com as próprias mãos. Sua propriedade é uma pequena propriedade com, no máximo, 4 hectares e ele nunca usa insumos químicos, herbicidas ou fertilizantes. É superior ao orgânico e muito nutritivo. Juntos, vamos ajudar o Sr. Ivo a recuperar ainda mais as suas águas de nascente e floresta!
O POVO ORIGINÁRIO KARUGWA
O conhecimento tradicional é fundamental para enfrentarmos os desafios do presente e construirmos um futuro possível e mais brilhante. Olhando para trás para seguir em frente, entender como os povos da floresta trabalham em harmonia com a natureza é a chave para a construção de um futuro regenerativo com alimentos nutritivos e abundantes para todos, inclusão social e mitigação do clima. Entusiasta desses princípios, a PRETATERRA aplica ferramentas de aquisição de conhecimento científico local para entender e multiplicar a sabedoria das populações nativas.
Apesar de trabalharmos com comunidades locais e povos tradicionais ao redor do mundo, nos sentimos honrados cada vez que temos a oportunidade de trabalhar com nossos povos priginários, os primeiros habitantes desta vasta terra do Brasil. Muita gente não sabe, mas ainda existem indígenas espalhados pelo estado de São Paulo. A PRETATERRA escolheu a comunidade Karugwá, no município de Barão de Antonina, SP, para implantar parte dos 100 hectares de sistemas agroflorestais de seu projeto “Agrofloresta para a Mata Atlântica” apoiado pela Fundação do Banco Suíço UBS. Nessa primeira fase, serão plantados até 5 hectares na aldeia indígena e a meta é expandir em todo o seu território nas próximas etapas do projeto.
Na aldeia Karugwá, grupo da etnia Guarani, cerca de 30 famílias e 150 pessoas vivem em 58 alqueires de terra, ou 140 hectares. Quando chegaram lá, com seus parcos pertences, a terra estava árida, desmatada, com pastagens degradadas e baixa produtividade. O grupo original desmembrou-se de sua aldeia-mãe localizada em Avaí, SP, em 2005, ao chegar a esta unidade de conservação demarcada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), em Barão de Antonina, SP, na divisa com o estado do Paraná. Originalmente, havia 12 famílias de pioneiros. Quando chegaram, a tribo enfrentou muita discriminação por parte de seus vizinhos e do município. Depois de um longo trabalho de alinhamento e construção de amizades, hoje contam com forte apoio da prefeitura local.
Os descendentes dos membros mais velhos da tribo eram indígenas que se juntaram às tropas separatistas durante a Revolução de 1932. O sudoeste do estado de São Paulo foi um refúgio onde permaneceram vários indígenas até o início do século 20, quando ocorreu uma expansão territorial e agrícola mais intensa e esses povos foram expulsos e exterminados. A tribo Karugwá abriga os descendentes desses povos indígenas que lutaram por suas terras e sua cultura e conseguiram permanecer no território por mais de 4 séculos de colonização. Apenas um dos membros mais antigos da tribo, o Sr. Valdeci, sabe falar a língua nativa de seu povo. Agora, ele ensina seus companheiros e as próximas gerações a manter sua cultura viva.
Na tribo, a ideia da agrofloresta já é difundida. Muitos trabalham com quintais agroflorestais de subsistência, contando com o apoio de um engenheiro agrônomo da FUNAI para assistência técnica. Grande parte do território, principalmente nas áreas mais íngremes ou na orla de corpos d’água, foi protegida e enriquecida com espécies nativas, e a floresta, mais uma vez, intercalou a paisagem. Hoje, mais de 30% da área voltou ao estado de floresta e eles querem mais. Os Karugwá estão ansiosos para fazer uma restauração produtiva conosco, usando espécies frutíferas nativas na recuperação das matas ciliares.
Hoje, membros da tribo Karugwá vivem da produção agrícola, ainda incipiente, do artesanato e do turismo. Alguns membros da tribo são professores e funcionários municipais de saúde. Outros também trabalham fora da aldeia, mas em fábricas locais. Membros mais velhos recebem benefícios de aposentadoria do governo.
Os jovens Karugwá são muito ativos na comunidade, desenvolvendo atividades para resgatar sua cultura. Sandro ingressou no agrônomo da FUNAI que os apoia na recuperação das nascentes de suas terras. Nathan aprendeu com seu pai o artesanato de seu povo usando materiais da floresta como fibras de palmeiras ou vinhas, couro de lagarto e jacaré, penas de pássaros, sementes e cascas de frutas secas para fazer de tudo, desde pulseiras, colares e cocares para eventos culturais e mobilizações de grupos indígenas, fundas, arcos e flechas para caça e proteção. Aprendeu arte indígena com seu pai Valdeir, cujo nome, em sua língua original, Guarani, é Tupã kutsuwidju, que significa ‘Guardião do Tempo’.
“É muito emocionante ser convidado a praticar arco e flecha por um verdadeiro guerreiro como Nathan e ser presenteado com uma pulseira digna de um guerreiro”, diz Valter Ziantoni, fundador da PRETATERRA ao se referir a momentos de integração com a comunidade.
“Nas conversas com os mais velhos, quando entendemos as espécies que utilizam e as práticas agrícolas que adotam, fica claro que trazer sistemas agroflorestais é na verdade um resgate da cultura ancestral desse povo”, se maravilha Paula Costa, fundadora da PRETATERRA.
Seu modo de vida autossuficiente é baseado na agricultura de subsistência, com a produção de mandioca, milho, feijão, banana e frutas diversas, além da criação de galinhas, peixes, porcos, gado leiteiro e de corte. Para comercializar, eles cultivam maracujá, manga, mamão, abacate e morango, produtos que vendem para o agronegócio de polpa de frutas da região.
O trabalho da PRETATERRA é olhar para os primeiros habitantes do Brasil e ajudá-los a resgatar seus conhecimentos de uma agricultura ancestral e resiliente na perspectiva de sistemas agroflorestais inovadores e integradores. Isso nos ajuda a fortalecer os laços sociais e históricos mais intrínsecos, aqueles que realmente unem as pessoas em sua essência. A agrofloresta aqui se mostra como uma ferramenta de resiliência, união, perseverança e pertencimento a uma agricultura ambientalmente sustentável e socialmente integrada, capaz de enfrentar os maiores desafios de nossa época.